Home

 

Estoril Jazz 2013

Se o Estoril Jazz de 2012 tinha sido o mais jovem festival de sempre, o 2013 foi marcado por um retorno aos clássicos, com o retorno de alguns músicos que já passaram pelo Estoril. A nossa curiosidade ia para o novo quarteto de Gary Burton e a estrela em ascenção Julian Lage. Para ficar parece ser a participação nacional, que este ano esteve confiada à Orquestra de Jazz do Hot Club de Portugal.

 

Orquesta de Jazz do Hot Club de Portugal
O Estoril Jazz passou a incluir desde 2011 um grupo nacional (Mário Laginha Trio, 2011; Orquestra Jazz de Matosinhos, 2012), cabendo a vez em 2013 à Orquestra de Jazz do Hot Club de Portugal (OJHCP)
Dirigida por Luis Cunha, o núcleo forte da OJHCP é constituído por históricos e músicos formados na HCP. Estiveram em destaque o veterano Jorge Reis e Oscar Marcelino da Graça, autores dos mais inspirados solos da noite, mas também João Capinha e Johannes Krieger, com nota alta para uma secção rítmica eficaz, nas mãos de Pedro Felgar, António Quintino e Oscar Graça.
Reportório basicamente retirado do livro de standards, mas não só, percorreu Bob Brookmeyer, Kenny Wheeler, Sonny Rollins Airegin, Gloomy Sunday, Jim McNeely, Days of Wine and Roses, Oleo, pondo à prova os arranjos de Krieger, Tomás Pimentel, Lars Arens ou Luis Cunha.
Swing, punch, na esteira das grandes formações americanas do tipo Vanguard Jazz Orchestra de Thad Jones e Mel Lewis, a orquestra soa como poucas, e cumpriu com distinção e o aplauso do público a missão de que estava incumbida.

 

Tierney Sutton Quartet
No regresso ao Estoril Jazz, Tierney Sutton confirmou-se um cantora fluente, muito técnica, com uma voz modelada, personalizada, e com um domínio perfeito dos standards.
Tierney Sutton arrancou com «Without a Song», mergulhou nos blues com «Ain’t Got No Blues», revelou-se nas baladas - «Skylark»-, e nos tempos rápidos, «East of Thed Sun/ West of the Moon» e «That’s Why The Lady is a Tramp», investiu em «Porgy & Bess» e regressou para um encore reclamado por Duarte Mendonça.
Noite agradável, sem surpresas.

Harold Mabern/ Vincent Herring Quintet
Harold Mabern é um daqueles pianistas de segunda linha que dão consistência ao Jazz. Sem ter logrado a notoriedade de outros, Harold Mabern revela-se um pianista vigoroso, fluido e consistente, com uma alegria de tocar contagiante. Os standards («Loverman», «Senor Mouse», «My Favorite Things»...) não lhe guardam segredos, que explora com uma genuína alma de bluesman, surpreendentemente elegante e percussivo, combinando acordes pesados com uma invulgar sensibilidade nas baladas, que nos faz pensar que talvez merecesse um lugar mais proeminente na História do Jazz.
Sem a presença de Eric Alexander, o saxofonista do quinteto, transformado em quarteto, com um inspirado parkeriano Vincente Harring no saxofone alto, o grupo tocou um hardbop escorreito, fazendo o que foi para mim o melhor concerto do festival.

Nota: A ausência de Eric Alexander, que perdeu o avião, não pode ser assacada à organização. Mas creio que, pela proeminência do músico, que constava até do nome do grupo anunciado: «Harold Mabern/ Eric Alexander/ Vincente Herring Quinteto»; a sua ausência deveria ter sido anunciada antes do concerto, se não na comunicação social pelo menos no exterior da sala, e não no início do concerto como aconteceu. Felizmente, e como escrevi, a sua ausência não prejudicou o concerto.

Gary Burton New Quartet
Gary Burton protagonizou outro dos momentos altos do Estoril Jazz. O novo Gary Burton Quartet incluiu a guitarra da estrela em ascensão Julian Lage (músico de ascendência portuguesa, do Porto, como fez questão de revelar), e uma secção rítmica poderosa, com Scott Coley no contrabaixo e Antonio Sanchez na bateria.
O alinhamento do concerto alternou entre clássicos como «Afro Blue» (Mongo Santamaria), «All Blues» (Miles Davis), um original de Scott Colley, «Never The Same Way»; um tributo a Piazzola de Burton, «Remember Tano», «The Lookout» de Julian Lage, e um excerto do Concerto de Aranjuez, eternizado por Gil Evans e Miles Davis, entre outros temas.
O estilo de Lage revela uma matriz manouche, num dedilhado muito rápido, que combina de forma muito curiosa influências que tanto vão buscar à guitarra rock como à folk music americana, como à guitarra brasileira e ao flamenco.
Lage e Burton ora se combinam em uníssonos ora competem entre si, ora completam a secção rítmica, num vórtice de ilusionismo colorido.
Concerto de virtuosos, com muita exposição para Lage, não escapou a um exibicionismo de alguma futilidade que prejudicou o resultado final num todo onde nada correu mal.

Warren Vaché UK All Stars Sextet
De Warren Vaché esperava-se swing e swing aconteceu. Warren Vaché pratica um Jazz que pertence ao passado, e ele toca-o assumidamente, sem quaisquer veleidades de novidade. É um Jazz bem disposto e bem executado, honesto e escorreito.
O seu universo são o cancioneiro americano e os clássicos do Jazz, de Ben Webster («Walkin’ The Frog») a Ray Noble («The Very Thought of You»), Oscar Pettiford («Swinging to The Girls Come Home», Art Pepper («Straight Life»), Benny Carter («Just in The Mood ….), ou Duke Ellington («C Jam Blues»). Art Themen surge para tocar «C Jam Blues» e Vaché regressa para um encore e também canta.
Banda eficaz, Jazz mainstream, bop, swing, Jazz.

Wycliffe Gordon Quartet
Membro da constelação Wynton Marsalis há mais de duas décadas, Wycliffe Gordon pratica um Jazz que procura a sinceridade do Jazz antigo. O tema com que abriu o concerto, «You Don’t Mean a Thing» deu o mote para um concerto onde ainda assim o trombonista-trompetista-cantor arriscaria logo de seguida uma curiosa interpretação de «Impressions» (John Coltrane) ou «Little Sunflower» (Freddie Hubbard); mas a modernidade ficou-se por aqui. «On The Sunny Side of The Street»; um arrastado «Fellow Alabama»; «Somewhere Over The Rainbow» e «Hellow Darling», dispensáveis; «On The Sunny Side of The Stree», tocado apenas pelo trio (piano, baixo e bateria), com um piano a evocar Errol Garner; «Black and Blue», um original de Fat’s Waller, com Gordon a cantar, algures entre Waller e Louis Armstrong; «Scrapple from The Apple», um clássico de Charlie Parker interpretado em trompete com surdina e dois temas de Ellington, o jungle «Caravan» e «In a Mellow Tone», o momento mais alto da noite, com Gordon no mini-trombone de varas e trombone e um pianista – Chris Pattishall – inspirado.

 

Sex 10 Maio Estoril Casino - Auditório 21.30 Orquestra Hot Clube de Portugal

Luis Cunha (dir), Johannes Krieger (t), Tomás Pimentel (t), Gonçalo Marques (t), Cláudio Silva (t), Claus Nymark (trb), Lars Arens (trb), Xavier Ribeiro (trb), Diogo Costa (trb), João Capinha (sa), Jorge Reis (sa), Daniel Vieira (st), César Cardoso (st), Hélder Alves (sb), Óscar Graça (p), André Santos (g), António Quintino (ctb), Pedro Felgar (bat), Mariana Norton (voz)

Sáb 11 Maio 21.30 Tierney Sutton Quartet Tierney Sutton (voz), Mitch Forman (p), Kevin Axt (ctb), Ray Brinker (bat)
Dom 12 Maio 19.00 Harold Mabern/ Vincent Herring Quintet Harold Mabern (p), Vincent Herring (sa), John Webber (ctb), Joe Farnworth (bat)
Sex 17 Maio 21.30 Gary Burton New Quartet Gary Burton (vib), Julian Lage (g), Scott Colley (ctb), Antonio Sanchez (bat)
Sáb 18 Maio 21.30 Warren Vaché UK All Stars Sextet Warren Vaché (t), Alan Barnes (sa, sb, clb), Adrian Fry (trb), Robin Aspland (p), Dave Green (ctb), Steve Brown (bat)
Dom 19 Maio 19.00 Wycliffe Gordon Quartet Wycliffe Gordon (trb), Aaron Diehl (p), Corcoran Holt (ctb), Alvin Atkinson (bat)