Home

 

 

 

 

 

Guimarães Jazz 2016

 

 

 

 

Com 25 anos de idade o Guimarães Jazz consolidou-se de há muito como o mais importante festival de Jazz nacional. Um «festival a sério», com uma dimensão

generosa, uma programação de topo, uma produção profissional e … público: a 25ª edição confirmou tudo isso, e mais. Mais são, por exemplo, os eventos paralelos: as jam sessions, as workshops que envolvem dezenas de estudantes de música e de Jazz, o projecto Guimarães Jazz – Porta Jazz, um filme documentário, uma pequena exposição dedicada a Villas-Boas e, neste ano, um concerto de antecipação que envolveu uma centena de músicos e de que falei na antevisão do festival que aqui fiz.

Darei conta do que assisti, na segunda semana do festival a que assisti.

Jamie Baum American-Polish Septet
Jamie Baum abriu a segunda semana do festival, com uma recriação do septeto que gravou em 2013 In This Life, adicionando um trio de sopros – oriundos da Polónia - ao quarteto com que vem rodando.


O American-Polish Septet de Jamie Baum fez um concerto agradável,

embora sem grande história, sempre muito contido. Os músicos polacos demonstraram-se competentes, colmatando o óbice da pouca dinâmica da flauta, e a gestão eficiente de Baum ofereceu-lhes o espaço para se revelar. Bons solos do saxofone alto e de Luis Perdomo, o melhor músico em palco.

Ambrose Akinmusire


Ambrose Akinmusire
fez o grande concerto desta segunda semana, com uma música que diríamos difícil, mas que o público soube aplaudir. Esta foi a terceira vez que vi Akinmusire tocar e, mesmo se sempre me impressionou pela técnica, o concerto de Guimarães foi o melhor de sempre: este grupo já roda há quatro anos, e a empatia que revelam é absoluta.

A música de Ambrose Akinmusire não é de aderência fácil; ele foge ao tradicional esquema tema-solo-tema, e cada composição é concebida como uma unidade independente, contando uma história, explorando uma ideia. Dir-se-á que todos os temas são sempre assim concebidos, mas em Akinmusire esta verdade ganha pertinência; aliás no seu último disco When The Heart Emerges Glistening, de 2011, cada tema tem uma instrumentação diferente, de acordo com a história que pretende contar (e poderíamos notar que, ao contrário de muitos músicos que têm a obsessão de gravar um disco por ano, Akinmusire tenha muito poucos discos, mas bons); sendo de admitir que na incipiência que revelou nos concertos do Estoril e do Seixal a que assisti, os temas não estivessem ainda adaptados à formação clássica de quarteto que apresentou.
Não fui capaz de identificar nenhum dos temas que tocou, e que ele mencionou como novas composições, embora eu creia que algumas pertencem ao disco, ou serão recriações; mas claramente elas pertencem a uma mesma linha conceptual, com raro swing, sempre intensas, recorrendo a figuras que remetem para áreas exteriores ao Jazz, mais próximas da música contemporânea, com ostinatos muito crus ou notas que se prolongam, repetições (que por vezes evocam a música minimal repetitiva) síncopes que ferem, silêncios, dramáticos contrastes construídos na oposição dos instrumentos ou no discurso. Os solos não surgem «porque é Jazz», mas como uma necessidade da composição, como se necessitassem intervir, as súbitas alterações rítmicas são recorrentes e, com frequência, os solistas parecem questionar a linha rítmica da bateria que, também ela, nunca se remete ao papel de acompanhante pacífico, aqui demoníaca, ali colorida, acolá discreta.
E posto isto, eu não tenho dúvidas de que estivemos perante um concerto de Jazz. Jazz contemporâneo, construída por músicos possuidores de uma técnica superlativa, de ouvidos bem abertos (ao mundo e à música) e uma música que não pactua com experimentalismos, afirmando-se de forma que eu diria definitiva. E para os que se questionam sobre o Jazz de Ambrose Akinmusire, o último encore da noite foi um soberbo, criativo, inspirado e irreverente «Body And Soul» (que me recordou um concerto de um músico que há algum tempo, num outro festival, ingenuamente confessou ao público que não podia fazer um encore porque não tinha mais nenhum tema ensaiado…).



Donny McCaslin


Era previsível que Donny McCaslin trouxesse a Guimarães uma banda «pop». É verdade que já no passado o saxofonista tinha explorado esta área de fusão funk–pop–rock, mas depois de no ano passado ter participado activamente na realização do derradeiro álbum de David Bowie, Blackstar, era expectável que ele iria tocar música dessa área; mas a própria formação «eléctrica» o prenunciava, com um baixo eléctrico e Jason Lindner nos teclados e electrónica.
A fusão deu o mote logo desde o primeiro minuto com «Shake Loose», e prolongou-se por vários outros temas do CD de 2016 Beyond Now, mas também Fast Future (2015) e Casting For Gravity (2011), incluindo ainda um dos melhores temas do disco de Bowie, «Lazarus», e um clássico de 1979, também de Bowie (Bowie-Brian Eno), «Look Back in Anger».

O pesado baixo eléctrico de Jonathan Maron (que subsituiu Tim Lefebvre do CD) e a bateria de duas tarolas do hiperactivo Mark Guiliana impulsionavam a banda num ritmo alucinante, com os decibéis algo acima do comum em Guimarães, sem que a banda resvalasse para a vulgaridade que a fórmula sugeria, em grande medida pela prestação de Lindner, que evitou sempre as armadilhas em que caem muitos teclistas. Lindner este sempre excelente, contido no piano eléctrico e nas electrónicas, com uma bonita intervenção no piano (acústico) em «No Eyes», enquanto McCaslin soava portentoso no saxofone tenor. A interpretação de «Lazarus» foi um dos momentos da noite, uma versão ácida para a balada de Bowie, e o concerto terminou com «Beyond Now» no encore.

Não foi o melhor concerto de Donny McCaslin a que assisti,  mas foi um bom concerto e um bom espectáculo,

bastante aplaudido pelo público.

Adam Bałdych & Helge Lien Trio
O trio/ quarteto de Adam Bałdych e Helge Lien veio a Guimarães apresentar o disco «Bridges» de 2016, gravado para a editora ACT.
Como se adivinhava no disco, a música do grupo soou sempre muito redonda, muito folk também. A procura de uma sonoridade original de fusão folk-Jazz soou sempre excessivamente melódica, sem que o violino, em evidência, lograsse romper com o registo clássico, a revelar a sua formação, sem arestas, mas também sem novidade.
Músicos competentes num concerto agradável. 

Charlie Haden´s Liberation Music Orquestra


Dois anos após o desaparecimento de Charlie Haden e dez anos após o histórico concerto da Liberation em Guimarães, impunha-se o regresso da orquestra para o encerramento do vigésimo quinto Guimarães Jazz.

Faz parte da história o concerto do quarteto de Ornette Coleman no primeiro Cascais Jazz (Novembro de 1971, quarenta e cinco anos!) onde actuou Charlie Haden, e a sua passagem pela António Maria Cardoso (libertado por intervenção do embaixador dos Estados Unidos, já que Haden era um cidadão americano): a sua ligação a Portugal nunca mais se rompeu. E comemorar o acontecimento é, diria, um imperativo nacional que apenas o Guimarães Jazz cumpriu.
Dirigida por Carla Bley – e a Carla sempre pertenceu a direcção (e os arranjos e o piano) da orquestra, mesmo se a sua paternidade, concepção e composições pertencem a Haden – a Liberation Music Orquestra, que acaba de editar um novo disco, prossegue o legado de Charlie Haden, na politização e compromisso com as causas sociais que estão por detrás das ideias do contrabaixista, talvez com uma inflexão recente no sentido das causas da defesa do planeta, que se espelha nalguns dos temas tocados.
Algum do fulgor que a orquestra revelou em 2006 se perdeu com o tempo, talvez porque não será sem tristeza que se toca a música de Haden, talvez que alguns dos seus membros já não são novos (o outrora impetuoso e singular Vincent Chancey está velho e Carla fez oitenta anos!), mas ainda assim a música da Liberation preserva toda a sua acuidade, e diríamos que também do ponto de vista político ela é pertinente num momento em que o mundo regride nos valores da liberdade, das conquistas sociais e em que o liberalismo mais selvagem parece apostado em destruir o planeta.
A orquestra arrancou, muito apropriadamente com «Not In Our Name» (nome da organização (NION) criada em 2002 para lutar contra a guerra do Iraque), tema (de Haden) e nome do álbum da Liberation de 2006; prosseguindo com «Blue In Green» (Miles Davis), um «This Is Not America» (outro tema comprometido de Pat Metheny, Lyle Mays e David Bowie) num arranjo reggae fantástico de Carla Bley, dois temas de Carla Bley – «Time Life» e «Silent Spring», um medley que agregava o hino tradicional «AmericaThe Beautiful» com «Skies Of America» de Ornette Coleman, com um solo de contrabaixo numa emulação do pesado walking de Haden, um rearranjo do «Grândola» de Zeca Afonso (que incluía um excerto audio da versão Zeca), o tradicional «Amazing Grace», «Song for the Wales» de Haden, e finalmente «Throughout» de Bill Frisell no encore.
Emocionante, também pelo peso da história. E se banda é constituída, toda ela, por músicos de gabarito – ou não fossem escolhidos a dedo desde sempre, por Carla Bley -, as figuras do concerto foram, inevitavelmente, a personalidade tutelar de Charlie Haden, os soberbos arranjos de Carla Bley, o saxofone inspirado de Tony Malaby, com dois solos magníficos em «This is Not America» e «Not In OurName», outro magnífico, Chris Cheek, e o omnipresente Matt Wilson que se impôs pela classe, pela subtileza, elegância, sentido de ritmo e acerto: um mestre!


Em eventos paralelos, o Guimarães Jazz organizou uma pequena exposição de homenagem a Luís Villas-Boas que inspirou a criação do festival, no museu Museu de Alberto Sampaio, que teve a colaboração do Hot Clube de Portugal, e ainda a projecção do 2.º capítulo do interessante documentário Uma História de Jazz, realizado por Cristina Marvão, dedicado ao Guimarães Jazz. Aguardam-se os próximos capítulos.

Last but not least, as jam sessions do Guimarães Jazz decorreram esta segunda semana no Café Concerto do Vila Flor, animadas pela banda de Jamie Baum.
Duas notas preliminares: o Café Concerto fecha portas às duas da manhã, o que contraria o próprio espírito de jam session, que por definição só acaba quando os últimos músicos depõem armas. Nas três noites desta segunda semana, apenas a simpatia dos responsáveis e dos empregados permitiu o fecho mais tardio, não sem que a maioria dos músicos debandasse. Segundo: por qualquer razão, o grupo de Jamie Baum tocou sempre quase hora e meia antes do início das jams, contribuindo da mesma forma para o esvaziamento da sala; dos músicos e do público. Ou a Jamie Baum não sabe o que é uma jam session ou alguém não lhe explicou que a ideia era pôr outros músicos a tocar. A verdade é que Jamie Baum não participou em nenhuma das jam sessions a que assisti, delegando o trabalho na banda, basicamente o omnipresente Luis Perdomo e ocasionalmente Zack Lober e Jeff Hirshfield.


Numa jam session tudo pode acontecer, e do Guimarães Jazz 25 reterei dois episódios extraordinários (a terceira noite, sábado, a noite arrefeceu depois do concerto interminável do quarteto de Jamie Baum e os músicos que estavam na sala acabaram por sair): na primeira noite, o encontro de Perdomo com Ricardo Toscano e Romeu Tristão até às quatro da manhã, para uma plateia de quinze sortudos retardatários, depois da debandada da sala às duas, quando deveria ter fechado as portas: duas gerações de músicos em estado de graça, uma mesma linguagem: o Jazz. Magnífico! Na sexta-feira, já depois das duas, com a sala quase vazia também, Perdomo regressou ao piano, convidando Zack Lober e Matt Wilson para o acompanhar, e pouco depois o jovem Hristo Goleminov recém formado na ESMAE, que foi obrigado a regressar por imperativo do pianista. E a jam session continuou até às três e meia: quatro músicos de origens, idades e estilos diferentes, que se encontram para tocar, pelo puro prazer de se encontrar e pelo puro gozo de tocar … Jazz.
Assim foi o vigésimo quinto Guimarães Jazz: venham mais vinte e cinco.

Leonel Santos

(Leonel Santos esteve no Guimarães Jazz a convite do festival)

(Todas as fotos de Pedro Pacheco)


 

Antevisão

O Guimarães Jazz faz vinte e cinco anos!

Para comemorar a efeméride, o que é desde há muito o mais importante festival de Jazz nacional, tem para este ano uma das mais fortes de sempre, que inclui um concerto extraordinário, já no próximo sábado - a LUME Big Band (que acaba de editar um novo disco: Xabregas 10), mais a Banda Musical de Pevidém (70 músicos) e o BJazz - Convívio Jazz Choir (19 vozes), dirigidos por Marco Barroso, o director, compositor, pianista e arranjador da singularíssima LUME -, e se completa com um concerto com um enorme significado para o Guimarães Jazz, a Liberation Music Orchestra, um ano após o desaparecimento do seu mentor, Charlie Haden. Ademais, o Guimarães Jazz teve com a Liberation, há exactamente dez anos, um dos momentos mais emocionantes da sua história. O espírito de Charlie Haden estará presente, assim como a que foi desde a primeira hora a maestrina da Liberation, orquestradora e também compositora, Carla Bley, bem como o grosso da formação que esteve em Guimarães em 2006. Não é difícil antecipar que iremos ter um grande e emocionante finale na 25ª edição do Guimarães Jazz.

Depois do concerto de antecipação referido, saábado 5, o festival começa propriamente na quinta 10, com um dos ensembles mais (justamente) aplaudidos da actualidade, o San Francisco Jazz Colective (SFJC), que estreará em Guimarães um novo repertório: a música de Miles Davis e composições originais. A SFJC é um colectivo com 12 anos de actividade, que tem explorado a música de diversos compositores: Joe Henderson, Herbie Hancock, Thelonious Monk, Ornette Coleman, John Coltrane, Stevie Wonder, Chick Corea, Horace Silver, McCoy Tyner, Wayne Shorter, e mais recentemente Michael Jackson, a quem é dedicado o último disco, já de 2016.
Reunião de notáveis, tem tido uma formação variável, embora com alguns nomes mais assíduos – a banda que irá em Guimarães conta com, entre outros, Miguel Zenón, David Sánchez, Robin Eubanks, Matt Penman e Sean Jones.

O segundo concerto da semana, na sexta 11, tem como protagonista principal Matt Wilson, o líder do grupo que, a avaliar por Beginning of A Memory, o disco de 2016, deverá fazer um dos concertos mais bonitos do festival. Versátil, elegante e criativo, hábil a acompanhar cantores e requisitado como baterista em áreas mais contemporâneas, confirma-se aqui (em Begining of a Memory) um compositor e líder a merecer reconhecimento. Com ele estarão Kirk Knuffke, trompetista polifacetado, notável no registo mainstream ou em contextos mais vanguardistas, Jeff Lederer, membro regular da banda de Wilson, com um património musical disponível que inclui o free jazz e a música clássica, e Chris Lightcap no contrabaixo, um sólido músico, também ele líder e compositor de excepção

O sábado conta com dois concertos: um primeiro, à tarde, o Quatro a Zero, um grupo brasileiro que explora uma música de fusão, entre o choro e outras músicas populares do Brasil, com outros géneros entre a pop e o Jazz e a música contemporânea. A confirmar da pertinência.

Para a noite, Ivo Martins, o programador do Guimarães Jazz, convocou Rudresh Mahanthappa, o músico que arrebatou praticamente todos os prémios da crítica internacional – e em Portugal também – para o melhor disco de Jazz de 2015, Bird Calls. Portentoso saxofonista, com uma sonoridade muito própria, evoca neste disco a música de Charlie Parker, um dos mais importantes saxofonistas da História do Jazz.
Alta voltagem! – escrevi sobre Rudresh - O discurso de Rudresh é sempre construído «lá em cima», em torrentes de notas que nos envolvem até ao esgotamento, e a banda nem por momentos afrouxa a pressão». Atenção ao jovem Adam O’Farrill - filho do pianista e chefe de orquestra cubano Arturo O’Farrill e neto de Chico O’Farrill, compositor, arranjador e também bandleader, também irmão e familiar de grandes músicos -, trompetista com um punch portentoso, François Moutin, verdadeiro monstro do contrabaixo, e o vulcão Rudy Royston a impulsionar o combo até aos limites.
Imperdível!

O domingo tem dois concertos com os músicos portugueses em destaque. O concerto da tarde reúne a Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE, como resultado dos workshops dirigidos pelo músico convidado – este ano a flautista Jamie Baum, que é também a compositora dos temas que os jovens estudantes irão tocar. Os resultados são sempre diferentes (porque os compositores-professores e os alunos são diferentes), mas são também sempre interessantes.

À noite, o palco muda-se do Vila Flor para a Black Box da PAC e, também à semelhança dos anos anteriores, o projecto Guimarães Jazz/ PortaJazz resulta num convite dirigido a João Mortágua, um dos mais impulsivos saxofonistas da nova geração. Para este projecto Mortágua conta com o trompetista Ricardo Formoso, Virxilio da Silva para a guitarra, Felix Barth, baixo, o baterista Iago Fernandez, e ainda o artista plástico Hernani Reis Baptista, responsável pela instalação artística.

O Guimarães Jazz recomeça na quarta com o The Jamie Baum American-Polish Septet, grupo liderado pela flautista que é responsável, como referi, pela direcção dos workshops, mas também pela animação das jam sessions que decorrerão nas duas semanas no final dos concertos, no Café Concerto do Vila Flor e no Convívio. Para o concerto de quarta-feira 16, Jamie Baum – um dos expoentes da flauta Jazz contemporânea - convocou o seu quarteto regular, composto pelo notável pianista Luis Perdomo e pelos igualmente excelentes Zack Lober (contrabaixo) e Jeff Hirshfield (bateria), e ainda um trio de sopros polaco, na recriação do septeto que gravou In This Life (2013).

Ambrose Akinmusire é o jovem premiado (melhor disco de 2014, The Imagined Savior Is Far Easier to Paint) a quem foi acometida a noite de quinta-feira. Músico vibrante, possuidor de uma técnica de excepção, leva ao palco do Vila Flor o seu quarteto regular, os excelentes Sam Harris (piano), Harish Raghavan (contrabaixo) e Justin Brown (bateria).
Outra grande noite em perspectiva.

Por razões mediáticas, a noite de sexta-feira é uma das noites mais aguardadas do festival: Donny McCaslin participou activamente em Blackstar, o derradeiro disco de David Bowie. Até pela formação «eléctrica» que acompanha o poderoso saxofonista, antecipa-se um concerto electrizante. Mas os músicos de que falamos são Jason Lindner, Tim Lefebvre e Mark Guiliana, e o adjectivo enérgico que se lhe aplicará não será por certo sinónimo de vulgaridade.

Ainda antes do concerto de encerramento, o Guimarães Jazz apresenta, na tarde de sábado, o Adam Bałdych & Helge Lien Trio, um quarteto multinacional (Noruega, Dinamarca e Polónia), que se estreou em 2015 com Bridges, um disco onde o ecletismo das influências resultou numa música de características melódicas e contemplativas.      

Um ano após o desaparecimento de Charlie Haden e dez anos após o concerto da Liberation Music Orchesta em Guimarães, o seu regresso é o encerramento natural da 25ª edição do festival.
A ligação de Charlie Haden a Portugal remonta a 1971 quando ele dedicou – no primeiro Cascais Jazz - uma das composições do grupo que integrava (o quarteto de Ornette Coleman) aos movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. O gesto ousado foi motivador para os milhares de jovens assistentes que acreditaram um pouco mais que o pútrido regime de Salazar podia cair. Para além de ter tocado por diversas vezes em Portugal, Haden possui na sua discografia três momentos dedicados a Portugal, o «Song for Che» de Closeness, o disco com Carlos Paredes, Dialogues, e o «Grândola» - tema de Zeca Afonso, no primeiro disco da Liberation Music Orchestra. E foi com um magnífico e comovente «Grândola» que a orquestra encerrou o concerto de Guimarães em 2006; um dos grandes concertos da história do festival.
A direcção de Carla Bley é também ela natural. Membro da Liberation desde a primeira hora, a ela estiveram sempre atribuídas a direcção e orquestração efectiva da orquestra, e ela (a orquestra) não seria o que é sem a arte e génio da figura tutelar de Carla Bley.
A formação da Liberation que tocará em Guimarães é praticamente a mesma que tocou em 2006, Chris Cheek, Tony Malaby, Matt Wilson, Michael Rodriguez, Seneca Black, Steve Cardenas, Vincent Chancey regressam ao palco do Vila Flor para o que será inevitavelmente um concerto histórico.

Começa a ser entediante ler as vezes que eu e os demais divulgadores, críticos e jornalistas da nossa praça se referem à programação do Guimarães Jazz como uma das melhores de sempre. Mas não sei como dizê-lo de outra forma: esta é uma das melhores programações do Guimarães Jazz de sempre.
Programação sem grande risco, diria: a quase totalidade dos músicos e grupos convocados são nomes consagrados do Jazz internacional e, com a interrogação necessária para os concertos das duas tardes de sábado, todos merecem a sua presença nas comemorações do quarto de século do Guimarães Jazz. A escolha de João Mortágua afigura-se-me também acertada, já que ele é um dos mais activos e seguros saxofonistas da nova geração de músicos nacionais; assim como a escolha de Jamie Baum para dirigir o ensamble de jovens estudantes: ela é uma personalidade única no panorama internacional, e no instrumento, com história também como educadora. Enfim, a escolha do irreverente Marco Barroso para dirigir as três formações (LUME + Banda Musical de Pevidém + Convívio Jazz Choir) no concerto de «antecipação» do festival, arrisca-se a ser também um acontecimento.

O Guimarães Jazz faz 25 Anos. Parabéns, Guimarães Jazz!

 

Sáb 5 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 LUME Big Band Marco Barroso (dir, p), Manuel Luís Cochofel (f), Paulo Gaspar (cl), João Pedro Silva (ss), Ricardo Toscano (sa), José Menezes (st), Elmano Coelho (sb), Jorge Almeida (t), Gonçalo Marques (t), Pedro Monteiro (t), Ruben Santos (trb), Eduardo Lála (trb), Pedro Canhoto (trb), Miguel Amado (b-el), André Sousa Machado (bat)
Banda Musical de Pevidém Vasco Silva de Faria (dir), Elísio Cruz (f), Maria do Anjos Machado (f), Ana Cláudia Mendes (f), Mara Marinho (f), Inês Freitas (f) Juliana Félix (obo), Roberto Henriques (obo), Carlos Guimarães (obo), Manuel Lemos (cl), Catarina Pereira (cl), Nuno Pinto (cl), Ricardo Pinho (cl), Beatriz Alves (cl), Maria João Faria (cl), João Ribeiro (cl), Teresa Machado (cl), Inês Sousa (cl), Beatriz Pinheiro (cl), Francisco Machado (cl), Luana Passos (cl), Carla Ferra (cl), João Almeida (cl), Ana Catarina Pinto (cl), Carolina Martins (cl), Carlos Almeida (clb), Carolina Fonte (fag), João Pedro Fontão (fag), Andreia Mendes (sa), Afonso Nogueira (sa), Rita Baptista (sa), Gabriel Dias (sa), Manuel Fernandes (st), Pedro Aguiar (st), Carlos Faria (st), Fernando Andrade (st), Pedro Melo (sb), Flávio Pereira (t), José Humberto Vitorino (t), Alfredo Fernandes (t), Rafael Pereira (t), António Silva (t), Ivo Castro (t), Fábio Silva (t), João Salgado (t), João Oliveira (tro), Paula Midão (tro), Ivo Vieira (tro), Gabriela Guimarães (tro), Guilherme Moreira (tro), Pedro Manuel Silva (trb), Rafael Badajós (trb), Alberto Pereira (trb), João Lopes (trb), Tiago Carvalho (trbb), Fábio Madureira (bom), Paulo Jorge Oliveira (bom), Luís Chaves (bom), Nuno Machado (tu), Carlos Cardoso (tu), João Fontão (tu), Rui Sampaio (tu), José Carlos Fontão (per), André Fernandes (per), Romão Miranda (per), José Miguel Fonseca (per), Pedro Paixão (per), Diogo Lemos (per), José Ribeiro (assistente de palco), António Gonçalves (assistente de palco)
BJazz (Convívio Jazz Choir) Tiago Simães (dir), Alexandrino Fortes Silva (voz: baixo), João Guimarães voz: baixo), Manuel Lemos (voz: barítono) André Carneiro (voz: barítono), Tiago Simães (voz: tenor), Filipe Gomes (voz: tenor), João Oliveira (voz: tenor), Manuel Tur (voz: tenor), Suzana Costa (voz: contralto), Sara Pereira (voz: contralto), Carla Castro (voz: contralto), Alice Cachada (voz: contralto), Joana Nuno (voz: mezzo soprano), Carla Silva (voz: mezzo soprano), Soraia Lemos (voz: mezzo soprano), Ana Silva (voz: s), Marisa Oliveira (voz: soprano), Rita Abreu (voz: soprano)
           
Qui 10 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 SFJAZZ Collective
«The Music of Miles Davis & Original Compositions»
David Sánchez (st), Miguel Zenón (sa), Robin Eubanks (trb), Warren Wolf (vib), Edward Simon (p), Matt Penman (ctb), Obed Calvaire (bat), Sean Jones (t)
Sex 11 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 Matt Wilson Quartet Matt Wilson (bat), Kirk Knuffke (t), Jeff Lederer (s), Chris Lightcap (ctb)
Sáb 12 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (PA) 17.00 Quatro a Zero Daniel Muller (p), Eduardo Lobo (g-el, g-cl), Lucas Casacio (bat), Danilo Penteado (b-el)
Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 Rudresh Mahanthappa
«Bird Calls»
Rudresh Mahanthappa (sa), Adam O’Farrill (t), Joshua White (p), François Moutin (ctb), Rudy Royston (bat)
Dom 13 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 17.00 Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE Jamie Baum (dir)
Guimarães Pac - Black Box 22.00 Projeto Guimarães Jazz / Porta-Jazz João Mortágua (s, f, voz), Ricardo Formoso (t, flis, voz), Virxilio da Silva (g), Felix Barth (ctb, b-el), Iago Fernandez (bat), Hernani Reis Baptista (instalação artística)
           
Qua 16 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 The Jamie Baum American-Polish Septet Jamie Baum (f), Luis Perdomo (p), Zack Lober (ctb), Jeff Hirshfield (bat), Maciej Obara (sa), Irek Wojtczak (st, clb), Tomasz Dabrowski (t)
Qui 17 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 Ambrose Akinmusire Quartet Ambrose Akimusire (t), Sam Harris (p), Harish Raghavan (ctb), Justin Brown (bat)
Sex 18 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 Donny McCaslin Quartet Donny McCaslin (s), Jason Lindner (p, tec), Tim Lefebvre (b-el), Mark Guiliana (bat)
Sáb 19 Guimarães Centro Cultural Vila Flor (PA) 17.00 Adam Bałdych & Helge Lien Trio
«Bridges»
Adam Baldych (v), Helge Lien (p), Per Oddvar Johansen (bat), Thomas Fonnesbæk (ctb)
Guimarães Centro Cultural Vila Flor (GA) 22.00 Charlie Haden´s Liberation Music Orquestra Carla Bley (dir, p), Tony Malaby (st), Chris Cheek (st), Loren Stillman (sa), Michael Rodriguez (t), Seneca Black (t), Vincent Chancey (tro), Marshall Gilkes(trb), Earl McIntyre (tu), Steve Cardenas (g-el), Darek Oles (ctb), Matt Wilson (bat)