Bill Evans
Live at Top of The Gate
CD Resonance 2012

Bill Evans (p)
Eddie Gomez (ctb)
Marty Morell (bat )

Em Outubro de 1968, depois de ter gravado um álbum ao vivo e estando a gravar outro em estúdio – Bill Evans At The Montreux Jazz Festival com Eddie Gomez (cb) e Jack DeJohnette (b), em Junho e Bill Evans Alone, a solo, curiosamente acabado de gravar dois dias antes da sessão que agora nos chega às mãos – o novíssimo trio de Bill Evans é contratado para tocar quatro semanas, de 15 de Outubro a 10 de Novembro, no famoso restaurante "Top of The Gate", situado por cima doutro clube lendário, o "The Village Gate" ambos de Art D'Lugoff.
Apenas por mera curiosidade, na semana em que este álbum foi gravado, no andar debaixo estavam a tocar os quartetos de Thelonious Monk e de Charles Lloyd!
Como sabemos, Bill Evans teve vários trios, a partir de 1956 com Teddy Kotick (cb) e Paul Motian (b), todos eles brilhantes, sendo que, no entanto, os trios com os contrabaixistas Scott LaFaro (1959-1961) e Chuck Israels (1962-1966) terão sido os mais marcantes até 1966. Neste ano o jovem Eddie Gomez é convidado por Evans para tocar no trio uma semana em Chicago e outra no Shelly's Manne Hole em Hollywood. Após o último set na segunda semana, Bill Evans convida-o para ficar permanente no grupo. Durante os dois anos seguintes os bateristas foram Shelly Manne, Philly Joe Jones e Jack DeJohnette, até que no princípio de Outubro de 1968 Marty Morell, então com 24 anos, entra no trio, onde ficará até 1974. Este será outro dos grandes trios de Bill Evans. Depois deste teremos nos dois últimos anos de vida de Bill o trio com Mark Johnson e Joe LaBarbera.
Talvez por se tratar do novo trio, a agente de Evans, Helen Heane, autorizou o realizador de um programa de rádio na Columbia University' WKCR-FM e Engenheiro de som, de 22 anos de idade, George Kablin, a gravar os dois sets da noite de 23 de Outubro.
A primeira coisa que se nota na audição desta gravação é justamente a qualidade do som. De facto, contrariamente ao que era muito habitual na altura nas gravações live em clubes, nas quais se usava apenas um microfone no fundo sala, Kablin usou quatro microfones no palco, e no fim de cada tema verificava de imediato a qualidade do som gravado e procedia às correcções que entendia necessárias.
A segunda coisa que se nota em todos os temas é o grande entrosamento entre Evans e Gomez e a enorme capacidade e à vontade do contrabaixista, quer no acompanhamento ao pianista, quer especialmente nos belos solos que executa em todas as peças. Realmente, não era muito normal na altura dar-se tanto protagonismo a um contrabaixista como Bill Evans fazia. Se alguma dúvida houvesse, com esta gravação ficamos absolutamente rendidos à grande qualidade de Eddie Gomez.
Por outro lado é muito interessante verificar o acompanhamento discreto mas perfeito do novo baterista do trio. Como refere Gary Burton nas suas notas que fazem parte do excelente livro que acompanha os dois CDs, Morell acabado de chegar ao grupo, apresenta um swing e uma energia consistentes, embora não faça nenhum solo, no sentido tradicional do termo. Bill Evans, como sempre, está maravilhoso com a frescura e o imprevisível estilo do fraseado nos seus solos (volto a citar Gary Burton), mostrando sempre como é um músico notável e inovador. É interessante comparar os três temas que são repetidos nos dois sets (Emily, 'Round Midnight e Yesterdays).
Em boa hora Zef Feldman, acabado de chegar à editora Resonance em 2009, decidiu vasculhar os arquivos de George Kablin e entregou-se com entusiasmo ao objectivo de publicar esta gravação histórica. Tendo Bill Evans morrido em 1980, apenas com 51 anos, é uma delícia aparecerem estas suas gravações desconhecidas para alimentarem a nossa paixão pela sua música.

José Ribeiro Pinto