Ex.o Sr. Leonel Santos
Acabo de ler no seu site JazzLogical um texto assinado por si no qual consta a seguinte frase: “Enfim, «a crise atacou» também a imprensa e as notícias são más também para a (es)crítica Jazz nacional. Depois da suspensão de O Sítio do Jazz Manuel Jorge Veloso no ano passado, soubemos agora que Raul Vaz Bernardo - relegado desde há muito para uma curta recensão semanal - deixa esta semana o Expresso.”
Como coordenador da secção de música do caderno “Atual” do Expresso venho esclarecê-lo, bem como aos seus leitores, que o crítico Raul Vaz Bernardo nunca foi “relegado para uma curta recensão semanal”. Há muitos anos que vem escrevendo semanalmente sobre um disco (cujo tamanho da recensão era por si decidido) e, sempre que quis, escreveu sobre festivais ou concertos de jazz, quer fazendo apresentações quer fazendo críticas (também em tamanho decidido pelo próprio). Teve sempre toda a liberdade para escrever sobre os discos que ele próprio escolhia e para me propor o tamanho que achava suficiente para a recensão. Nunca lhe coloquei constrangimentos sobre o assunto ou o tamanho dos textos.
Além do mais, a cobertura do jazz pelo caderno “Atual” nem sempre se resumiu ao que o Raul Vaz Bernardo escrevia. Quantas vezes foram publicados textos sobre discos de jazz assinados pelo Ricardo Saló, por mim ou pelo João Santos?
É também com muito espanto que leio que o Raul “deixa esta semana o Expresso”. O Raul continua como até aqui a escrever para o Expresso, fazendo críticas e apresentações de concertos e festivais de jazz. Apenas deixa de fazer críticas a discos, passando essa tarefa a ser assegurada semanalmente por um outro crítico.
O Expresso continua a dar semanalmente aos seus leitores críticas de jazz feitas por críticos competentes e bem informados.
Cumprimentos
Rui Tentúgal
8-Fev-2013
Caro Rui Tentúgal,
agradeço o seu esclarecimento. A informação que eu tinha é que o Raul Vaz Bernardo, bem como o João Lisboa e o Ricardo Saló, tinham sido dispensados do Expresso. Apraz-me saber que a minha informação estava errada: qualquer dos três, na sua diferença, são o melhor que a crítica musical nacional tem, e não dispenso a sua leitura semanal.
Eles são o melhor pelo conhecimento enciclopédico, mas também pela sua atenção e independência de pensamento, qualidades que infelizmente tendem a rarear na escrita sobre música nacional. A verdade é que muita da crítica musical que se faz hoje mais não passa de gestão de interesses próprios, dos amigos ou da indústria.
O Raul Vaz Bernardo é um profundo conhecedor do Jazz e da sua História e um espírito independente, com opiniões sempre bem fundadas que me habituei a considerar, mesmo quando não estava de acordo com elas. E talvez seja mesmo defeito de melómano, mas desde há muito que acho o espaço de Raul Bernardo, e do Jazz, mas também da Música, diminuto.
Sem saber as razões, lamento a saída do Raul Bernardo da crítica de discos, mas haverá talvez que dar lugar aos novos; assim eles sejam capazes de merecer o lugar dos que saem.
Enfim, com a sua garantia de que o Jazz não vai acabar no Expresso, e em jeito de correcção, tomo a liberdade de publicar o seu email na íntegra.
Cumprimentos,
Leonel Santos
13-Fev-2013