CD do ano 2008

Charles Lloyd - Rabo de Nube, ECM/ Dargil

Sem surpresas, Rabo de Nube de Charles Lloyd foi votado o CD do ano 2008 pela crítica de Jazz nacional. Nada de mais; ele é justamente considerado um dos grandes saxofonistas em actividade, um histórico que se mantém na linha da frente aos 70 anos de idade. Sobre Rabo de Nube ler aqui.
Logo de seguida, muito perto, foi votado o CD do jovem Miguel Zénon, Awake, um fortíssimo disco que combina modernidade e tradição, a desmentir os que vaticinaram o fim do Jazz clássico;
e finalmente ex aequo Moonshine do projecto Keystone de Dave Douglas, Don McCaslin Trio - Recomended Tools e ainda The Remedy registo do concerto no Village Vanguard de Kurt Rosenwinkel.
Qualquer coisa que se diga sobre Dave Douglas corre o risco de ser redundante: ele é só o melhor trompetista da actualidade e Keystone é o seu projecto mais pop e milesiano,
Don McCaslin é outro jovem saxofonista a merecer atenção urgente, ele que já se guindou para os lugares cimeiros da cena internacional e que aqui surge à frente de um trio, uma formação «sem rede», poderosíssimo,
e ainda outro jovem, o guitarrista Kurt Rosenwinkel que é já o modelo de todos os (sérios) pretendentes a guitarristas de Jazz; aqui ao vivo, onde as coisas são mais verdade.

 

Melhor CD Internacional Reedição 2008

Miles Davis Kind Of Blue: 50th Anniversary Collector's Edition

Kind of Blue de Miles Davis não será apenas o melhor disco de Jazz de 2008, mas para muitos ele é o melhor disco de Jazz de sempre. Esta edição comemorativa dos 50 anos da sua edição inclui 2 CDs com o total das takes gravadas na altura incluindo as false starts e as alternate takes e ainda um livro com textos e fotos, um documentário em DVD sobre Kind of Blue, e ainda um LP com a edição original da obra!
Logo de seguida figuram duas pérolas do Jazz clássico remasterizados pela Universal na Orrin Keepnews Collection: Bill Evans Trio Sunday At The Village Vanguard e Brilliant Corners do incontornável Thelonious Monk.

 

 

 

Melhor CD Nacional 2008

Carlos Martins- Água - iPlay

Sem dúvidas, o regresso ao estúdio de Carlos Martins (Água) foi aplaudido pela quase totalidade das orelhas críticas reunidas em JazzLogical. Não se pode dizer que seja propriamente uma novidade: lá está aquela forma única - melódica e intensa - de tocar de Carlos Martins, o Alentejo, as causas e as coisas simples. Qualquer novo CD de Carlos Martins arrisca-se a ser sempre o melhor do ano...
Em segundo lugar dois regressos: o regresso de António Pinho Vargas ao Jazz num ambicioso registo a solo (Solo), e o de Maria João/ Mário Laginha (Chocolate) aos standards (se bem que eles sejam bons companheiros de Mário Laginha); e não me parece errado dizer que em dias e disposições diferentes aqueles críticos poderiam ter eleito qualquer destes títulos. Grande música!
De sequida, um dos grandes guitarristas nacionais, com direito a edição internacional na prestigiada Enja, Afonso Pais (Subsequências), e uma das vozes femininas emergentes, já bem conhecida do público, Marta Hugon (Story Teller).
E referência ainda para a jovem voz de Sara Serpa (Praia), que começa agora a impôr-se por mérito próprio.

 

 

Melhor Concerto 2008

Miguel Zénon - Estoril Jazz

O concerto de Miguel Zenon no Estoril Jazz foi votado o melhor concerto do ano e o prémio é inteiramente merecido. Ele é um saxofonista moderno, intenso, um virtuoso e «mais que um produto evoluído do bop, ele é um produto do Jazz, todo o Jazz, que se fez nos últimos 50 anos». Como concluía sobre o Estoril Jazz na altura, «ele é já hoje um dos grandes nomes da cena internacional».
Curiosamente logo logo a seguir à votação de Zenon quatro concertos se perfilam com apenas menos um voto que claramente, no meu entender, só não têm melhor classificação porque os críticos se dividiram nessas noites. Eu por exemplo fiquei no Hot a assistir ao (excelente concerto de David Binney) e não assisti ao Charles Lloyd. Também não fui ao Porto assistir ao que, de alguns relatos, foi um dos mais extraordinários concertos de Jazz dos últimas tempos: o Jason Moran Octeto – “In My Mind”: Monk in Town Hall, 1959. E finalmente assisti ao “Circle Wide” de George Schuller’ no Hot Club e não no Braga Jazz. Mas poderíamos fazer a mesma obervação de outros concertos e outras orelhas, e o resultado provavelmente outro seria.
Não vale a pena prolongar-me: por muitos quilómetros que palmilhemos, sempre alguns concertos ficarão de fora. Mas é preciso um esforço e quanto mais não seja pela fruição, ele vale a pena.
Enfim, em ano de grandes concertos Charles Lloyd no Museu do Oriente,
Jason Moran na Casa da Música,
Dave Holland no renascido Seixal Jazz e
a surpresa do poderoso Jazz de George Schuller no Braga Jazz
num honroso segundo lugar na votação do melhor concerto de Jazz de 2008.

 

Músico do Ano 2008

Pretender encontrar «o melhor músico do ano» é obviamente uma pretensão sem medida, mas também o é qualquer outra votação, ainda mais num ano fértil de grandes concertos espalhados pelo país todo e grandes discos, a que uns e outros, não pudemos assistir/ ouvir. Sem qualquer injustiça Charles Lloyd conquistou também aqui o primeiro lugar, mas - até pelo que atrás disse sobre os discos ou concertos - qualquer dos segundos, Jason Moran ou Kurt Rosenwinkel o podia ter obtido. Ganhou e bem o sólido Jazz do velho guerreiro!

 

 

Acontecimento do Ano 2008

A votação nesta categoria foi bastante dispersa, mas ainda assim o regresso do Seixal Jazz obteve três dos votos da crítica, fazendo dele o acontecimento mais relevante de 2008. Ele que foi o grande festival da grande Lisboa a par do Estoril Jazz, regressou algo discretamente, não logrando obter a bondade do público que a ele acorreu noutros anos. A longa ausência ou a programação cuidadosa (cautelosa) não terá ajudado, apesar de alguns nomes de primeiro plano da cena internacional. Esperemos que regresse aos grandes tempos.

 

A votação

Esta votação foi realizada, como é hábito, pela nata da crítica nacional, e os seus nomes dispensam apresentações. Nenhum de nós ouviu todos os discos que sairam em 2008 ou assistiu a todos os concertos que se realizaram em Portuigal, e esta votação, como qualquer outra, estará sempre necessariamente inquinada pela deficiente distribuição ou pela nossa condição de periferia. No entanto, é bom assinalar que - e basta olhar para os títulos votados - esta pool de críticos ouviu uma enormidade de discos de diferentes correntes e estilos e palmilhou muitos quilómetros para assistir aos que foram os grandes acontecimentos de Jazz ao vivo em Portugal.
Exercício de subjectividade chamei a esta votação no ano passado. E assim é por natureza. Ainda assim, o que creio que qualifica este grupo de indivíduos que hoje votaram é a sua imparcialidade e independência e esforço pela (quimérica) objectividade. É com muita honra minha que todos eles acederam uma vez mais a votar em JazzLogical os melhores do ano 2008.

 

Leonel Santos

 

 

 

Votaram:

Paulo BARBOSA (a)
Raul Vaz BERNARDO (b)
António BRANCO (c)
José DUARTE (d)
Rui DUARTE (e)
António RUBIO (f)
Leonel SANTOS (g)
Manuel Jorge VELOSO (h)

a) Publico, Jazz.pt
b) Expresso
c) Improvisos ao Sul (Internet), Rádio Voz da Planície, Jazz.pt
d) Jazzportugal (Internet), RDP Antena 1, RDP Antena 2
e) Jazz.pt
f) Correio da Manhã, Jazz.pt
g) JazzLogical (Internet)
h) O Sítio do Jazz (Internet), RDP Antena 2