Donny McCaslin
Recommended Tools

CD Greenleaf 2008

Donny McCaslin (st)
Johnathan Blake (bat)
Hans Glawischnig (ctb)


A formação de Recommended Tools, em trio, sem instrumento harmónico, é uma fórmula que poucos saxofonistas arriscam e ainda assim nem todos vencem: afinal eles estão como em nenhuma outra situação expostos; mesmo mais, diria, que nos mais concisos duetos. O saxofonista é um dos lados do triângulo que se quer equilátero, mas ele é o lado mais visível!
E se dúvidas houvesse, Recommended Tools encarregar-se-ia de as desfazer: a história do saxofone está toda contida em Don McCaslin. Não é no entanto fácil identificar referências: o discurso de McCaslin aproxima-se mais do que poderíamos chamar do saxofone total, que é afinal o que encontramos também num David Binney, e é diferente do que faz por exemplo James Carter (em que podemos ouvir uma referência, outra referência e outra referência; mesmo se as referências são Eric Dolphy, Coltrane ou Anthony Braxton…). O saxofone de McCaslin possui toda a história do saxofone Jazz em cada sopro, poderoso e subtil, denso e mavioso, vertiginoso e dramático, dominador, definitivo.
Interessantes são também os temas, originais de McCaslin, compostos expressamente para o trio sobre materiais dispersos, entre Billy Strayhorn, Hermeto Pascoal, Bill Frisell ou ainda Sonny Rollins e John Coltrane (músicos com ascendente reconhecido sobre este saxofonista). Nada é gratuito em Don McCaslin apesar da criatividade luxuriante, como se tornou evidente no concerto a que assisti em Serralves: o saxofonista ataca os temas de forma bastante ortodoxa – vulcânico, mas luxuriante como disse -, recusando explorar um lado mais espectacular que o público sempre parece preferir.
O trio completa-se com Johnathan Blake na bateria e Hans Glawischnig no contrabaixo, dois requisitados músicos que se vêm fazendo notar na cena de New York e que se revelaram sempre à altura do saxofonista; igualmente impetuosos, intervenientes e criativos.
Inequivocamente um dos grandes discos de 2008.