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Jon Irabagon
It Takes All Kinds
CD Irabbagast Records 2014

Jon Irabagon é um dos mais impressionantes saxofonistas da actualidade. Músico completo, ele parece descender de Charlie Parker e Sonny Rollins na fluência e na veemência do discurso, mas alguns descobrir-lhe-ão com propriedade traços do que faz Evan Parker ou Anthony Braxton. Aliás a capacidade de se transfigurar, autoriza-o a tocar com Wynton Marsalis, Tom Harrell, Joe Lovano, Moppa Elliott, Peter Evans, Mary Halvorson, John Abercrombie, Barry Altschul, Ralph Alessi, Luis Perdomo ou Dave Douglas. Tenho dúvidas que haja muitos músicos capazes de tamanha proeza mas, já agora, ele também tocou com Billy Joel e Lou Reed e este é também o saxofonista que em 2008 ganhou o Thelonious Monk Jazz Saxophone Competition.
It Takes All Kinds é a terceira colaboração registada em disco de Irabagon com o veterano Barry Altschul (71 anos! - recordemos que Altschul foi o baterista do icónico Conference of The Birds de Dave Holland, onde tocavam também Sam Rivers e Anthony Braxton, que é um dos discos de referência de Jon Irabagon), em trio, desta vez com o contrabaixista Mark Helias, outro virtuoso de amplos horizontes.
Se nos discos em estúdio Irabagon se adivinha impetuoso, ao vivo – este disco é um registo ao vivo da actuação no Jazzwerkstatt Festival em 2013 - ele revela-se verdadeiramente devastador. Desde o primeiro momento se percebe que ele possui toda a história do saxofone nos dedos, mas o exercício do reconhecimento é por demais fastidioso e inútil, pois que se está lá tudo, as referências são micrométricas e surgem-nos em catadupa. O resultado final é uma síntese como raros músicos foram capazes de fazer, e Irabagon constrói um discurso consistente, mesmo se incontido.
Irabagon parece ser incapaz do silêncio (o que pode revelar-se penoso para alguns ouvidos), tocando sem parar (Foxy, disco de 2011, não tem princípio nem fim) como se a sua vida dependesse disso.
Impetuoso, orgânico, ele é claramente a figura do disco, mesmo se a empatia que estabelece com a bateria e o contrabaixo é absoluta. Desde o primeiro tema que se percebe que Altschul é a sua alma gémea, apesar da idade que os separa – 35 anos! – e Helias, um contrabaixista bastante cerebral, que é aqui a verdadeira âncora da música, dir-se-ia mimético.
Mais de uma hora de música em oito composições de Irabagon de suster a respiração. Música angulosa, impetuosa, opulenta, complexa, insaciável. Se a modernidade não está aqui, não está em lado nenhum.

Jon Irabagon (st)
Mark Helias (ctb),
Barry Altschul (bat)