Ray Charles
Live in Concert
CD Concord 2011

Ray Charles (voz, p, or)
Oliver Beener (t)
Phil Guilbeau (t)
Wallace Davenport (t)
John Hunt (t, flis)
Julian Priester (trb)
James Herbert (trb)
Henderson Chambers (trb)
Keg Johnson (trbbar)
Hank Crawford (sa)
Bill Pearson (sa, f)
David "Fathead" Newman (st)
Leroy Cooper (sb)
Sonny Forriest (g)
Edgar Willis (b)
Wilbert Hogan (bat)
The Raeletts (backing vocals)

Cantor, pianista, organista, saxofonista, compositor e chefe de orquestra americano, Ray Charles nasceu em 1930 em Albany na Georgia. Aos sete anos de idade ficou cego e aos quinze órfão. Estudou música e aprendeu a tocar vários instrumentos na San Augustine School for the Deaf and the Blind, na Florida. Muda-se para Seattle onde constitui um trio imitando o King Cole trio. Encontra em Los Angeles o cantor e guitarrista de blues Lowell Fulson com quem começa a fazer turnés onde às vezes acompanha outros músicos de blues como T-Bone Walker e Joe Turner. Vai para New Orleans trabalhar com Guitar Slim para quem faz vários arranjos, nomeadamente o do grande sucesso de rhythm&blues The Things That I Used To Do e a seguir forma uma banda com a estrela de R&B Ruth Brown. Impõe então uma concepção musical original: um género em que mistura blues e gospel, cantando letras profanas, até mesmo lascivas, sobre o ritmo e as harmonias dos espirituais. É este o embrião da Soul Music, embora ainda não fosse assim chamada na altura. Alguns grandes sucessos, já na editora Atlantic, como "I Got A Woman", "Hallelujah, I Love Her", "THis Little Girl of Mine", Drown in My Own Tears", "Lonely Avenue" e "The Right Time" levam-no aos primeiros lugares no mundo vocal afro-americano, mas é com "What'd I Say" que realmente conquista a audiência pop.
Começa então a tocar com músicos muito variados, incluindo de jazz, como Oscar Pettiford, Billy Mitchell ou Milt Jackson, com que grava. Triunfa no Festival de jazz de Newport em 1958, no Carnegie Hall em 1959 e vem à Europa no ano seguinte. Forma uma grande orquestra com a qual toca quase todos os géneros musicais, do gospell ao r&b, passando pelos blues, jazz, soul, country, pop e rock&roll.
Em 20 de Setembro de 1964, a seguir a uma turné pelo Japão, apresenta-se no Shrine Auditorium em Los Angeles. A ABC – Paramount Records, com a qual tinha contrato desde o fim dos anos 50, grava a sessão e edita em Janeiro de 1965 um LP com 12 temas "Live in Concert". Em 2011 a gravação foi remasterizada e publicada pela primeira vez em CD, incluindo os temas do LP original e sete novos temas.
No piano e órgão, Ray Charles é acompanhado por uma banda de 15 músicos (12 sopros, guitarra, contrabaixo e bateria), entre os quais podemos referir os grandes saxofonistas David "Fathead" Newman, Hank Crawford e Leroy "Hog" Cooper que acompanhavam Ray desde o tempo dos seus pequenos grupos. O historiador de música Bill Dahl refere que "esta interessante junção de músicos era um pedaço de tudo, tão versada na complexidade do jazz moderno, como na síntese gospel-blues de que Brother Ray foi o pioneiro em meados dos anos 50…".
Como vimos atrás, e Chris Clough, director da Concord Records, chama a atenção, na altura deste concerto no Shrine Auditorium, Ray Charles está já na fase de transição da sua carreira ultrapassando os limites do R&B e entrando no mainstream, demonstrando ter agarrado vários outros géneros. Clough diz que "ele fez o seu percurso ascendente no início dos anos 60 e, nesta altura, tinha o mundo a seus pés. Basicamente, ele tinha inventado o soul, tinha feito R&B, tinha conquistado o country e estava prestes a tornar-se um ícone americano.
Ao longo das 19 canções, Live In Concert mostra o caminho para esse destino, desde o groove de big band jazzy de "Swing a Little Taste" ao cheirinho latino de "One Mint Julep" ou ao híbrido blues-gospel do seu clássico "I Got A Woman". Um tema que sobressai neste CD é a versão de "Georgia On My Mind", o que se deve ao facto de Ray Charles desenhar linhas complexas no órgão e da flauta fazer um belo contraponto com o seu rico canto. Também as interpretações de "You Don't Know Me" e "That Lucky Old Sun" são pontos altos, não esquecendo o "Hallelujah, I Love Her" tocado num estilo gospel e com um belo solo de David "Fathead" Newman e o famoso tema "Makin' Whoopee" completamente bluesy, apenas tocado pelo piano, guitarra, contrabaixo e bateria a acompanhar Ray.
Por tudo isso este disco é geralmente considerado como uma gravação pivot no conjunto do trabalho de Ray Charles.

José Ribeiro Pinto