Tony Bennett/ Bill Evans
The Complete Tony Bennett Bill Evans Recordings

CD Universal 2009

Tony Bennett (voz)
Bill Evans (p)

 

Sei que vou dizer qualquer coisa de escandaloso, mas eu sempre me enterneci com a voz de Tony Bennett, tanto como me aborreci com Frank Sinatra. A diferença que sempre senti neles é que Sinatra é um monstro de técnica e um produto da indústria (e diziam as más línguas que da máfia), enquanto Bennett é um natural. Não pretendo fazer a biografia dos dois cantores e a minha «polémica» morre já aqui, mas creio que «A Voz» teve sempre atrás de si uma poderosa produção que lhe permitiu nunca correr riscos, enquanto Tony Bennett, apesar do tremendo sucesso que lhe valeram quinze Grammys, teve um percurso irregular que fazia seguir verdadeiras estopadas a momentos de génio.
Nascido em Queens, Tony Bennett sempre se manteve um genuíno cantor popular e despretensioso. O disco de estúdio com o pianista Bill Evans de 1975 terá sido o mais longe que foi na erudição, e é um bom exemplo da irreverência de Bennett e do seu gosto pelo risco. O disco foi um tremendo sucesso e os dois músicos acabariam por se reunir no ano seguinte para nova gravação.
Sem a presença da orquestra a que estava mais habituado, a voz de Tony Bennett alcança um grau de despojamento raro que é assistido pelo piano denso de Bill Evans; numa fórmula perturbante de «minimalismo luxuriante».
Pouco habituado a acompanhar cantores Bill Evans nunca se remete para um papel secundário, intervindo como uma outra voz, com alguns momentos verdadeiramente sublimes; e não se pode dizer que este seja de facto um disco de um cantor, tal a empatia e complementaridade dos dois músicos.
Esta edição da Fantasy/ Universal de 2009 reúne não apenas as edições de 1975 e 1976, como ainda as alternate takes dos dois discos, numa fórmula muito apreciada pelos amantes do Jazz – para quem se tornou um verdadeiro disco de culto -, e de uma forma até bastante correcta: as duas edições originais no primeiro CD e as alternate takes num segundo. O repertório é integralmente constituído por clássicos do cancioneiro americano, incluindo o célebre Waltz For Debby de Bill Evans em muito mais de duas horas de standards; e o risco que a edição corre será apenas o de oferecer uma verdadeira overdose de música. Creio que é o tipo de disco que ou se ama ou detesta: quem não se enternecer com o Young And Foolish que o abre pode desistir.