Home

 

 

Vijay Iyer Trio
Accelerando
CD ACT 2012

Vijay Iyer (p)
Stephan Crump (ctb)
Marcus Gilmore (bat)

Já escrevi por diversas vezes sobre esse notável pianista que é Vijay Iyer, e tive mesmo a oportunidade de o entrevistar para JazzLogical a propósito do celebrado Historicity de 2009.
Vijay Iyer estreava nessa altura o seu primeiro trio de piano, com Stephan Crumb e Marcus Gilmore, com quem haveria de tocar por duas vezes em Portugal: em Serralves (Julho de 2010) e na Culturgest (Outubro de 2011).
Três anos e dois discos após (Solo 2010 e Tirtha 2011), o pianista regressa à popular fórmula do trio de piano com os mesmos companheiros, como ele dois exuberantes instrumentistas.
Vijay Iyer é um verdadeiro monstro do piano, e seria em boa verdade difícil que em Accelerando, o CD 2012 que é para mim o disco do ano, se superasse tecnicamente. Accelerando aliás, em nada corta com o Historicity e é dele (con)sequência lógica.
Como essoutro disco, Accelerando combina originais e covers, cobrindo áreas extensas que vão da música pop ao Jazz mais erudito. Duke Ellington, Henry Threadgill, Herbie Nichols, e Michael Jackson estão entre os escolhidos. E como Historicity, Accelerando é atravessado por uma vertigem que ressai na subversão das estruturas rítmicas, mas vai mais longe, à substância e ao nervo harmónico. Um cromatismo vivo, dir-se-ia, que impregna as figuras, que se deslocam ao longo das tessituras, desconstruindo e refazendo, reinventando.
Se no desvario rítmico, Vijay Iyer pode ser associado a Esbjorn Svensson ou Ethan Iverson, eu creio que a sua inspiração é mais distante, entre as formas repetitivas desenvolvidas por Steve Reich/ Phiplip Glass e as peculiares arquitecturas de John Hollenbeck. A originalidade de Vijay Iyer revela-se na forma genial como cruza a erudição destes conceitos na interpretação de melodias retiradas da pop music, e em Accelerando dois exemplos são particularmente expressivos: "Human Nature", popularizado por Michael Jackson no disco Thriller (e Miles Davis de You're under Arrest), e "The Star of a Story" (dos Heatwave, uma banda de disco-funk da segunda metade dos anos 70).
Mas os exemplos mais eruditos, de Threagill a Nichols, a acentuação bluesy de "The Village of The Virgins" de Ellington, ou o seu "Optimism", são igualmente assinaláveis, não apenas na versatilidade e como mostras da vastíssima cultura musical e personalidade atenta e inquieta de Iyer, mas expressivos igualmente do pianista extraordinário que ele é, também compositor, a par de apenas mais dois ou três nomes da actualidade.
Irrepreensíveis,
Stephan Crumb e Marcus Gilmore são os outros dois lados do triângulo mais que perfeito.