Henri Texier em Portalegre

Em Portalegre a música era outra. Por razões de ordem profissional apenas pude assistir ao concerto de Henri Texier, um músico europeu que aprecio especialmente.

Apesar dos seus sessenta anos de idade, a música que Texier persiste em praticar é de uma modernidade capaz de fazer inveja a muitos jovens. O sexteto " Strada" - dois saxofones, trombone, guitarra, bateria e contrabaixo -, um pianoless combo (onde a guitarra, tipicamente hendrixiana apenas a espaços se assume como instrumento harmónico) pratica uma música de grande energia e dinâmica, onde o Jazz, por vezes o Free Jazz, se cruza com motivações alheias. A política e a razão das coisas está presente e inspira a temática de Texier. Os temas são verdadeiros temas, como um atordoante Sacrifice – uma longa suite - ou Black March Revolt, onde Texier joga com todos os instrumentos de forma extremamente inteligente (bem diferente daquela que nos é apresentada amiúde por algumas aves canoras do free do estilo de "vamos todos lá prá frente e depois logo se vê"), como movimentos, com andamentos, com escrita, com inteligência.

Nota alta para os músicos, Corneloup, como era esperado; ele próprio, Texier pai um monstro do contrabaixo; o filho, Sebastien Texier, uma verdadeira revelação, próximo de um Sclavis (a semelhança talvez não seja inocente); Gueorgui Kornazov, enérgico e impetuoso e a guitarra ácida de Manu Codjia. Apenas o baterista Christoph Marguet se me afigurou excessivo, mas admito que pode ter sido prejudicado pela acústica de igreja (18 metros de pé direito!) pouco própria para um concerto deste tipo.

Uma primeira nomeação para concerto do ano!

27 de Fevereiro de 2006

O Concerto de Henri Texier foi votado pela crítica nacional como O Concerto do Ano (ex aequo com Keith Jarrett Trio no CCB) 2006.

Ver toda a votação em Jazzlologia.