Festival de Jazz de Portalegre - Portalegre JazzFest

 

 

2010

O Portalegre JazzFest abre portas a 18 de Fevereiro com o o Open Gate 5, «um ensamble musical constituído por objectos e esculturas sonoras que tem como principais linhas orientadoras a manipulação do som residual ou ambiente».

Os concertos Jazz iniciam-se a 19 da melhor forma com o novo projecto de Carlos Barretto, Lokomotif, que deverá dar origem a um CD a sair ainda este ano. Os músicos do Lokomotif são os seus companheiros de eleição, Mário Delgado e José Salgueiro.

Completam a primeira semana do festival José James, um cantor soul que gosta de Jazz. No sábado.

A segunda semana começa com o Tord Gustavsen Ensemble (desfalcado da vocalista) que deverá apresentar Restored, Returned, o disco editado na ECM em 2009. Elegante, lírico, imaginativo, o pianista norueguês deverá realizar um dos grandes concertos do JazzFest.

O Tony Malaby's Apparitions Quartet completa o ciclo de concertos «nobres» do festival, com o que deverá ser o mais interessante concerto do Portalegre JazzFest 2010. Tony Malaby é um dos mais sólidos saxofonistas da nova geração. Inspirado directamente em John Coltrane, acompanhou no passado Charlie Haden, Paul Motian ou Joey DeFrancesco, embora a sua preferência vá claramente para o Jazz mais radical. Em Portalegre o saxofonista apresentar-se-á à frente de um grupo constituído pela nata da «vanguarda nova-iorquina»: Drew Gress, John Hollenbeck e Tom Rainey.

Como vem sendo hábito, depois dos concertos no salão nobre o CAEP, o JazzFest prossegue noite afora no Café Concerto, com concertos a principiar por volta das 23.30. Assim a 19 apresenta-se o Pocketbook of Lightning de Nuno Rebelo, a 20 o Trio Lisboa-Berlim, um grupo multinacional que tem na guitarra Luís Lopes, a 26 os The Fish, um grupo que recupera o Free Jazz mais radical de Albert Ayler ou Sunny Murray dos anos 60, e finalmente o Tatsuya Nakatani/ Rafael Toral Duo a 27.

14 Fevereiro 2010

Qui 18-Fev
Portalegre
Praça da República
14.30

Portalegre JazzFest

Open Gate 5
 
Sex 19-Fev
Grande Auditório
21.30
Carlos Barretto Trio «Lokomotiv»
Carlos Barretto (ctb), Mário Delgado (g), José Salgueiro (bat, per)
Café Concerto
23.30
Pocketbook of Lightning
Nuno Rebelo (g-el, obj), Marco Franco (bat, elec) + Tom Chant (s, cl)
Sáb 20-Fev
Grande Auditório
21.30
José James Quarteto

Grant Windsor (p), Neil Charles (b), Richard Spaven (bat), Jose James (voz), Jordana De Lovely (voz )

Café Concerto
23.30
Trio Lisboa-Berlim

Luís Lopes (g), Robert Landfermann (ctb), Christian Lilling (bat)

Sex 26-Fev

Grande Auditório
21.30
Tord Gustavsen Ensemble

Tord Gustavsen (p), Jarle Vespestad (bat), Mats Eilertsen (ctb), Tore Brunborg (s)

Café Concerto
23.30
The Fish

Jean Luc Guionnet (sa), Benjamin Duboc (ctb), Edward Perraud (bat)

Sáb 27-Fev
Grande Auditório
21.30
Tony Malaby's Apparitions Quartet

Tony Malaby (st, ss), Drew Gress (ctb), John Hollenbeck (bat, per, vib, melódica), Tom Rainey (bat)

Café Concerto
23.30
Toral/Nakatani Duo

Tatsuya Nakatani (per), Rafael Toral (g)


2009

Sex 20-Fev
Portalegre
Centro de Artes do Espectáculo - GA
21.30

7.º Portalegre JazzFest

Joana Machado - “A Casa do Óscar”

Joana Machado (voz), Afonso Pais (g), Filipe Melo (p), Bernardo Moreira (ctb), Bruno Pedroso (bat)

Centro de Artes do Espectáculo - CC
23.30
Quarteto de Vasco Agostinho «in tempus»

Vasco Agostinho (g), Jeff Davis (vib), Demian Cabaud (ctb), Bruno Pedroso (bat)

Sáb 21-Fev
Centro de Artes do Espectáculo - GA
21.30
Fredrik Nordström Quintet
Fredrik Nordström (s), Magnus Broo (t), Mattias Ståhl (vib), Ole Morten Vågan (b), Fredrik Rundqvist (bat)
Centro de Artes do Espectáculo - CC
23.30
Trio Paulo Bandeira
Paulo Bandeira (bat), Nelson Cascais (ctb), Afonso Pais (g)
 Sex 27-Fev
Centro de Artes do Espectáculo - GA
21.30
John Zorn + Cyro Baptista + TTUKUNAK
 John Zorn (s), Cyro Baptista (bat, perc), Sara e Maika Gomez (TTUKUNAK) (perc)
Centro de Artes do Espectáculo - CC
23.30
Trio Rodrigo Amado
Rodrigo Amado (s), Miguel Mira (vcelo), Gabriel Ferrandini (bat)
Sáb 28-Fev
Centro de Artes do Espectáculo - GA
21.30

Gianluca Petrella «Indigo 4»

Gianluca Petrella (trb), Francesco Bearzatti (st, cl), Paolino dalla Porta (b), Fabio Accardi (bat)
Centro de Artes do Espectáculo - CC
23.30

Space Ensemble - Spy Quintet

Gustavo Costa (bat), João Tiago Fernandes (bat), Henrique Fernandes (ctb), João Martins (s), João Guimarães (s)

A sétima edição do Portalegre JazzFest cresceu para dois fins de semana e oito concertos, afirmando-se também em dimensão, já que ele é já desde há muito um dos grandes festivais de Jazz nacionais.
À semelhança do ano passado, os concertos ocorrerão em dois espaços diferentes: às 21.30 nop Grande Auditório do Centro de Artes do Espectáculo e às 23.30 no Café Concerto do mesmo Centro.
Arrisco a avançar que o melhor concerto do festival ocorrerá na segunda semana com o Indigo 4 de Gianluca Petrella. É sabido como o Jazz italiano é dos mais excitantes da Europa e o jovem trombonista é um dos seus mais criativos representantes. O Indigo 4, um quarteto sem instrumento harmónico (trombone, saxofone, baixo e bateria), ilustra o que criatividade aliada a um profundo conhecimento harmónico pode produzir. Humor e erudição estão sempre presentes na música do trombonista preferido de Enrico Rava. A conferir Sábado 28. Mas antes ainda teremos muito boa música.

A abrir o JazzFest, sexta dia 20, canta uma da mais interessantes vozes da cena nacional, Joana Machado, acompanhada da crème de la crème: Afonso Pais, Filipe Melo, Bernardo Moreira e Bruno Pedroso.
À noite dessa mesma sexta apresenta-se o guitarrista Vasco Agostinho, um músico que é já um nome seguro entre os melhores guitarristas formados na casa de guitarristas que é o Hot Club de Portugal. Vasco Agostinho vai a Portalegre apresentar o seu novo trabalho: in tempus.

No sábado 21 o Jazz vem da Suécia e poderá ser uma surpresa: Fredrik Nordström, um músico que já gravou para a Clean Feed e esteve em Coimbra em 2005. No quinteto que tocará em Portalegre estará outro nome maior do Jazz radical nórdico, o trompetista Magnus Broo.
A noite acabará mais calma no Café Concerto, com o irrepreensível Jazz de Paulo Bandeira. A acompanhar o baterista estará o discreto mas seguríssimo Nelson Cascais e a guitarra de Afonso Pais.

A segunda semana inicia-se (sexta 27) com a música do iconoclasta John Zorn, sempre fértil nas artes do espectáculo e da provocação (que por vezes substituem a música). Com ele estará o baterista/ percussionista brasileiro Cyro Baptista e o duo de percussionistas bascas TTUKUNAK.
A noite radical completa-se com o trio do saxofonista Rodrigo Amado que terá ainda Miguel Mira no violoncelo e Gabriel Ferrandini na bateria.

O melhor do JazzFest virá então sábado 28 com o Indigo 4 de que já falei,
mas a noite só acaba no Café Concerto com o Space Ensemble, um atípico grupo nacional, constituído por duas baterias, dois saxofones e contrabaixo, que recriarão música de John Zorn e Ornette Coleman.

16 de Fevereiro de 2009


2008

Qui 21-Fev
Portalegre
Centro de Artes do Espectáculo
21.30
Portalegre JazzFest
Júlio Resende “Da Alma”
JR (p), Zé Pedro Coelho /st), João Custódio (ctb), João Rijo (bat)
Sex 22-Fev
21.30
Trio Joachim Kuhn, Daniel Humair e Jean Paul Celea
JK (p), DH (bat), JPC (ctb)
23.30
Scott Fields Freetet
SF (g-el), Achim Tang (ctb), João Lobo (bat)
Sáb 23-Fev
21.30
Melissa Walker
MW (voz), Vana Gierig (p), Sean Conly (ctb), Clarence Penn (bat)
23.30
Scott Fields Freetet
SF (g-el), Achim Tang (ctb), João Lobo (bat)

PORTALEGRE JAZZFEST 2008

Habituado a um nível muito alto, foi com algum desapontamento que assisti ao decorrer do Portalegre JazzFest deste ano. Não que os nomes não estivessem à altura, mas porque os músicos escolheram a rotina ao invés da emoção que é própria do Jazz. Recordo que Henri Texier realizou na edição do JazzFest 2006 o que foi para JazzLogical o concerto do ano e em 2007 Michel Portal esteve igualmente muito alto.

As honras de abertura couberam ao jovem Júlio Resende que veio a Portalegre apresentar o disco de estreia, «Da Alma». Engenhoso e lírico, o seu fulgor não encontrou ecos na banda, que não chegou a aquecer. É verdade que o público não ajudou e a banda praticou um Jazz competente, mas até mesmo o saxofone de José Pedro esteve sem chama numa noite sem história.

Esperava-se melhor também de Joachim Kuhn, um veterano do piano Jazz do velho continente. Mas com excepção de alguns momentos, Kuhn optou por um desfile de truques fáceis que fazem sempre o gosto do público; a maior parte das vezes a repetição de um excerto de melodia, quatro ou cinco notas em jeito de enunciado, introduzindo pequenas alterações na duração de algumas notas, modificando-lhe a altura, a acentuação ou mesmo uma nota, num processo que termina inevitavelmente num motivo épico. Em noite desinspirada, o estilo de Kuhn pareceu vogar sem consequência entre o catastrofismo tayloriano e um xarope descolorido. Mas é claro que ele é um virtuoso e Joachim Kuhn sabe como fazer levantar uma plateia. Jean-Paul Celea, um contrabaixista que veio da música clássica esteve bem, embora também ele tenha abusado do tipo de truques de Kuhn, e apenas Daniel Humair brilhou. Irremediavelmente igual a si próprio; quer dizer, elegante, sóbrio, rigoroso, imaginativo, seguro, vigoroso, perfeito, prodigioso! Humair! Vê-lo é só por si uma lição de Jazz. Ele salvou(-me) a noite!

A voz quente de Melissa Walker foi a escolhida para encerrar o JazzFest 2008. A cantora, que encheu a sala do Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre, tem um espectáculo bem montado, onde não são permitidas surpresas. A forma de Melissa combina a grande tradição do canto negro americano popular e religioso com a pop music e o «smooth Jazz». Eficiente, realizou um concerto agradável, mas que não ficará na memória.

O mais interessante do festival acabou por acontecer no 1.º piso do Centro, já depois da meia noite. O grupo escolhido por Joaquim Ribeiro, o director artístico, para animar as altas horas foi o Freetet do guitarrista Scott Fields. O trio pratica uma música de risco, nas margens do Jazz. É uma música de grande rigor e exigência, inteiramente escrita, sem quaisquer laivos de melodia, e onde a improvisação está quase sempre apartada.
Distinto do que é a essência de um grupo de Jazz, o Freetet é um triângulo isósceles, onde dois lados se submetem a um terceiro. Ainda assim, Scott Fields revela-se muito interessante, tanto do ponto de vista da composição como da execução. Enquanto executante ele não possui uma sonoridade propriamente inovadora, se bem que a sua técnica, submetida a uma escrita de grande exigência e severidade, acaba por construir um discurso original. Discurso que é ostensivamente amelódico e cerebral, construído sobre catadupas de notas que de tão rápidas se tornam por vezes indistintas, sucedendo-se a movimentos largos ou harpejos jogando com a altura e a velocidade e ocasionalmente a distorção. De forma surpreendente Scott Fields revelou-se bastante contra-a-corrente dos (alguns) modernos guitarristas que têm como padrão o psicadelismo de Hendrix ou a «guitarra country» ácida de Bill Frisell. Fields pertencerá mais a uma descendência perversa de Jim Hall.
Como atrás disse, os restantes membros da banda estão quase sempre submetidos à pauta, o que, diga-se de verdade, não se revela tarefa fácil. Ainda assim eles cumprem quase sempre, muito em especial João Lobo que se revelou surpreendentemente, nesta música difícil (a João Lobo voltaremos numa melhor oportunidade).

O JazzFest regressa para o ano. De acordo com Joaquim Ribeiro, vai crescer. Se tudo correr bem, a ideia é passar o festival para duas semanas… Creio que este crescimento se justifica dado o prestígio que o festival já granjeou e a bonita cidade de Portalegre merece.

10 de Março de 2008

Leonel Santos


O Portalegre JazzFest 2008 abre portas com o quarteto do jovem pianista Júlio Resende que irá tocar “Da Alma”, o seu disco de estreia. Júlio Resende foi uma das revelações do ano de 2007 e é uma das maiores promessas do Jazz nacional. Uma abertura com Jazz mainstream sólido.

No dia seguinte é a vez do Joachim Kuhn Trio. Joachim Kuhn é desde há muito um dos grandes nomes do Jazz europeu,. Nos anos 70 andou próximo do free, mas também do jazz-rock, tendo tocado com Jean-Luc Ponty. No final dos anos 90 fez-se notar pela colaboração próxima com Ornette Coleman e esteve já este ano em Portugal ao lado de Rabih-Abou Khalil. O trio é composto ainda por um referência maior da bateria, Daniel Humair e pelo contrabaixista Jean Paul Celea. um músico de formação clássica-contemporânea, mas que tocou com Michel Portal ou Steve Lacy, por exemplo.

Tecnicamente irrepreensível, Melissa Walker possui uma voz poderosa, quente e sensual que hipnotiza as audiências. Melissa tem formação clássica, mas estudou também com o grande pianista Norman Simmons, sendo igualmente capaz de cantar um espiritual ou uma melodia pop. Foi escolhida para cantar na festa dos 75 anos de Ray Brown e também já cantou Wynton Marsallis, Hank Jones, Russell Mallone, Benny Green ou Phil Woods.

As noites finalizarão com o Scott Fields Freetet. Scott Fields é um guitarrista conotado com o free jazz, que retornou à actividade nos anos 90, depois um desaparecimento prolongado. Tem dedicado a sua atenção à composição para pequenas formações, sendo considerado uma voz original como guitarrista. A acompanhá-lo, além de Achim Tang no contrabaixo, estará o jovem João Lobo que na passada semana passou com distinção na prova que foi o concerto de Enrico Rava no CCB. A atenção estará naturalmente dirigida para a batida modernista do jovem baterista, que se revelará num contexto que será bastante diferente.

Fevereiro de 2008


2007

Qua
21-Fev
Portalegre
Grande Auditório
21.30
Portalegre Jazz Fest
Sexteto de Mário Barreiros - Mário Santos (st, cl-b), José Pedro Coelho (st, fl), José Luís Rego (sa, ss), Pedro Guedes (p), Pedro Barreiros (ctb), Mário Barreiros (bat)
Qui
22-Fev
Portalegre
Grande Auditório
21.30
Portalegre Jazz Fest
Trigon Quartet - Anatol Stefanet (viola), Vali Bogheanu (s, t, flu, fl, kaval, voz), Dorel Burlacu (org, p, harm), Gari Tverdohleb (bat, perc, xilofone)
Sex
23-Fev
Portalegre
Grande Auditório
21.30
Portalegre Jazz Fest
Michel Portal Quartet - MP (sa, bandoneon, cl), Louis Sclavis (cl, s), Bruno Chevillon (ctb) Daniel Humair (bat)
Portalegre
Café Concerto
24:00
Portalegre Jazz Fest
Jam Session: Jeffrey Davis Trio - JD (vib), Nelson Cascais (ctb), Alexandre Frazão (bat)
Sáb
24-Fev
Portalegre
Grande Auditório
21.30
Portalegre Jazz Fest
Don Byron «Ivey Divey Trio» - DB (cl, st), George Colligan (p), Ben Perowsky (bat)
Portalegre
24.00
Portalegre Jazz Fest
Jam Session: Jeffrey Davis Trio - JD (vib), Nelson Cascais (ctb), Alexandre Frazão (bat)

Portalegre JazzFest 2007

O Portalegre JazzFest parece ter encontrado uma fórmula estável. Mesmo apesar da sua modesta dimensão (4 concertos + jams), ele começa a ser já hoje uma referência entre os festivais de Jazz nacionais. A fórmula do sucesso residirá em parte no ecletismo e autoridade da programação de Carlos Barretto; este ano um concerto de Jazz europeu, uma vedeta norte-americana, um concerto de etno-jazz, uma noite de Jazz nacional e ainda jam sessions diárias ao longo do festival. Mas os habituais do JazzLogical saberão que um dos concertos do JazzFest do ano passado, o Henri Texier Strada venceu (ex æquo com o Jarrett Trio no CCB) a votação de 2006 para o concerto do ano pela pool de críticos reunidos em JazzLogical (conferir toda a votação em Jazzologia).

A grande novidade este ano é a excelente sala de espectáculos, confortável, elegante e com boa acústica (a zona das jams poderia ser melhorada, mesmo que se pretenda para ela alguma informalidade): Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre (CAEP).

Não assisti aos primeiros concertos, o Mário Barreiros que apresentou o seu novíssimo trabalho «Dedadas», nem o seguinte do grupo moldavo Trigon Quartet, que ao que me foi dito não terá corrido lá muito bem…). Mas os restantes dois concertos mais que justificaram a deslocação a Portalegre.

Michel Portal é um veterano, um dos maiores jazzmen europeus. Apresentou-se em Portalegre à frente de uma formação de luxo: Daniel Humair na bateria, Louis Sclavis nos saxofones e clarinete e Bruno Chevillon no contrabaixo. Ele mesmo em saxofone e clarinete baixo. Curiosamente o quarteto era composto de duas gerações: ele e Humair na linha da frente do Jazz dos anos 70 e Sclavis e Chevillon, dois dos mais profícuos representantes da geração post-free europeia. O velho e o novo à uma; erudição e energia.

Foi um concerto bastante duro, esteticamente próximo do free numa espécie de revisitação do Michel Portal Unit dos anos 70, sem que isso represente qualquer forma de saudosismo ou indigência: se eles são quatro improvisadores maduros, a sua (nobre) arte esteve ao serviço de engenhosas e modernas composições. Como era de esperar, Louis Sclavis brilhou sem que se possa dizer que Portal tenha estado mal; apenas Sclavis não pára de crescer! Talvez que a debilidade, a ter havido, esteve em Humair; ele que foi a referência absoluta da bateria «culta» do Jazz europeu. Humair esteve contido, embora sem falhas. Da mesma forma esteve Chevillon, apenas porque esta fórmula privilegia os sopros, não lhe oferecendo grande espaço. Portal – um verdadeiro repositório da erudição europeia – esteve eficiente, rigoroso e dominador! Mas a noite elevou-se por diversas vezes quando os dois sopros – Sclavis e Portal – escolhiam o clarinete baixo.

Um grande concerto!

Apresentei Don Byron como um músico da downtown nova-iorquina, o que se revelou redutor. Ele revelou-se efectivamente na downtown, mas cedo se revelou um músico ecléctico, bastante difícil de catalogar. Os seus discos alternam entre a erudição e a irreverência dos músicos que se reuniam na Knitting Factory, onde aliás ele tocou, a música yiddish, o swing ou a soul music.

Este projecto, o Ivey Divey, que já apresentou na Casa da Música há dois anos (num excelente concerto), tocou agora em Portalegre na sua versão reduzida – um trio sem contrabaixo, de piano, bateria e clarinete (ou saxofone tenor), o que lhe ofereceu um timbre muito original. O trio toca um Jazz vibrante, moderno e eficaz, sendo de relevar o clarinete verdadeiramente contagiante de Byron. Ele será provavelmente o maior «especialista» de um instrumento (injustamente) esquecido, e uma vez mais não deixou os créditos por mãos alheias. Ivey Divey é o nome de um dos seus discos e um dos seus projectos mais acessíveis. O público correspondeu.

Uma nota final para a cidade de Portalegre, uma cidade que está lindíssima e vale realmente a pena visitar, agora que terminaram as obras. De resto, tudo à volta, todo o alto Alentejo é magnífico na Primavera e merece a deslocação. Depois há a gastronomia, o vinho e as gentes. A isto tudo haverá a somar o Jazz e o panorama torna-se perfeito.


2006

Qui 23-Fev Portalegre Centro de Congressos 22.00 Portalegre Jazz Fest Contra3aixos (Barretto/ Bica/ J.Eduardo) + Ficções (Rui Dudas 5tet)
Sex 24-Fev Portalegre Centro de Congressos 22.00 Portalegre Jazz Fest Henri Texier "Strada" Sextet
Sáb 25-Fev Portalegre Centro de Congressos 22.00 Portalegre Jazz Fest Dee Dee Bridegwater

Henri Texier (Fevereiro 2006)