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Melhor CD Internacional:

 
 

Vijay Iyer Accelerando (ACT)

 

Melhor CD Clássico/ Reedição:

Bill Evans Live at Top of The Gate (Resonance)

 

Melhor CD Nacional:

Coreto Porta-Jazz - Aljamia (Carimbo Porta-Jazz)

 

Melhor Concerto:

Jason Moran & The Bandwagon (Angra Jazz)

 

Uma vez mais, contrariando as previsões, o Jazz não acabou.

Pelo contrário, a quantidade de títulos de excelente qualidade, a quantidade de concertos e festivais, a quantidade de jovens músicos que escolhem o Jazz como linguagem, a par da influência que o Jazz continua a fazer nas outras correntes musicais, a vitalidade, a diversidade de caminhos, que tanto escavam no passado como vão beber a outras fontes, que tanto param para pensar como olham directamente o futuro, são a garantia de que o Jazz está aí para ficar.

Mas muito mudou nos últimos tempos, a começar pelo crescente desinteresse da indústria discográfica pelo Jazz, que levou ao aparecimento de inúmeras pequenas editoras ou editoras de autores, às formas alternativas de distribuição que procuram aproximar-se dos novos paradigmas de consumo, e ao renovado interesse pela música ao vivo e os concertos.

Muitas nuvens ensombram o Jazz em Portugal. Se o número de discos vendidos caiu a pique, em parte pelo aparecimento da internet, mas em grande medida também como consequência da avidez das editoras, para os músicos, para os jovens músicos, para os amantes da música, e não apenas do Jazz, o futuro não se avizinha radioso.

Em tempos de crise, a cultura é sempre a primeira a pagar, mas um governo que corta cegamente, faz lembrar o agricultor que, em tempos de crise resolve poupar nas sementes.

Porque um governo que sob a capa da modernidade engorda os Ulrichs e os Espíritos Santos, enquanto corta na educação e na saúde;

um governo que diz para o estrangeiro que Portugal é um óptimo país para se viver, mas expulsa os jovens;

um governo que corta nos salários e nas pensões dos trabalhadores e reformados, mas aumenta os privilégios de meia dúzia (a mesma meia dúzia que provocou a «crise»);
um governo que lança um quarto da população no desemprego (mais ainda nos jovens);
que desperdiça o capital humano de centenas de milhares de jovens formados,
um governo que diz que quer levantar Portugal como se Portugal não fossem as pessoas,
um governo que mente, que está ao serviço de interesses que não os dos que governa, não deveria ser deixado lá nem mais um dia.
Porque quando sair não vai restar nada, nem cultura.

Temo pelos jovens músicos, pelos professores, pelas escolas, pelos amantes do Jazz, dos jazzómanos, pela cultura, e pela sociedade.

Enfim, «a crise atacou» também a imprensa e as notícias são más também para a (es)crítica Jazz nacional. Depois da suspensão de O Sítio do Jazz Manuel Jorge Veloso no ano passado, soubemos agora que Raul Vaz Bernardo - relegado desde há muito para uma curta recensão semanal - deixa esta semana o Expresso. Na Internet ainda, o JazzPortugal de José Duarte perdeu a dinâmica de outros tempos, o Jazz XXI de Paulo Barbosa interrompeu a actividade no ano passado e, enfim, torno público agora, o desde sempre irregular Jazz 6/4 cerra definitivamente portas.

Na imprensa escrita de há muito que o Diário de Notícias, o Correio da manhã ou o JN deixaram de ter crítica de Jazz e, lamentavelmente, a crítica do Público, já de si irregular por decisão editorial, vem atravessando um longo período de, hum…, indigência. Restam alguns textos dispersos pela imprensa, na Time Out, ou pelo DN, aqui e ali, e alguns apontamentos ocasionais na blogosfera.

Receio que também a crítica de Jazz independente esteja a morrer. E isso é mau porque, por questionável que seja, ela é por si mesma apaixonada e estimulante, para o público e para os músicos. Desde os primórdios, desde o início do século XX que se discutia (ferozmente por vezes) o Jazz, ao mesmo tempo que se tocava e se vivia o Jazz. Se se deixar de discutir e pensar, o Jazz corre o risco de se rotinar e definhar entre as paredes das salas de aulas e dos interesses particulares da indústria ou deste ou daquele personagem.

Foi para que o Jazz se pensasse que há dois anos propus a criação do Jazz 6/4. Foi para que o público e os músicos pudessem pensar também e levar a Arte mais longe. Nunca nos impusemos nenhuns limites para a crítica, nenhuns limites para as ideias: apenas a independência.

Enfim, relegado para o papel de último moicano, quero dizer a todos os que amam o Jazz e pensam o Jazz acima de interesses pessoais, que têm em JazzLogical um espaço para escrever. E quero continuar a editar JazzLogical semanalmente, até onde me for possível.

Quero acreditar que os mais de cento e cinquenta leitores (mais de 55000 entradas e milhões de clicks) que no ano passado acederam a JazzLogical diariamente, merecem o meu trabalho e a minha paixão.

Enfim, regressando às listas.

A lista, as listas, dos melhores de 2012 que agora publico, são pois apenas as minhas escolhas. Injustas talvez para muitos discos ouvidos e não ouvidos: centenas!-, e muitos concertos: dezenas!, mas sempre determinadas apenas pelo conhecimento que tenho do Jazz e do meu gosto pessoal; questionável é certo, mas o mais atento que me é possível e independente até onde me é possível pensar.

Às listas dos melhores CDs Internacionais e Clássicos, outras categorias se sucederão nas próximas semanas.

Enfim, solicitei a vários dos meus amigos que considero sérios e empenhados na causa do Jazz, as suas listas dos melhores de 2012, que igualmente começarei a publicar em breve.

Ao meu amigo José Ribeiro Pinto, o rosto do Angra Jazz, cujo programa de rádio Os Sabores do Jazz acaba de fazer 21 anos(!), os meus agradecimentos pelo texto sobre o disco de Bill Evans, que considerei o melhor do ano 2012. E os meus parabéns.

Leonel Santos

6-Fev-2013

Na sequência do meu editorial que precede as listagens dos «Melhores 2012», José Duarte enviou-me um texto em que se insurge contra a minha frase «Na Internet ainda, o JazzPortugal de José Duarte perdeu a dinâmica de outros tempos...», exigindo, ao abrigo do direito de resposta, a publicação de um texto e do seu currículo. Ler AQUI.

13-Fev-2013

Do Expresso, também Rui Tentúgal, responsável da secção de música do «Atual», escreveu a JazzLogical, corrigindo várias afirmações. Para ler AQUI.
Posteriormente Raul Vaz Bernardo enviou-me também um email que aqui ficou igualmente registado.